Caríssimo leitor, antes de tudo, e porque o futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes da vida, quero desejar-lhe as maiores felicidades para a época de festas que está prestes a começar e agradecer-lhe por ler a FACTBALL.
Pois bem, chegou o dia em que esta publicação vai abordar o elefante na sala!
Enquanto ainda está fresquinho nas nossas memórias, vamos falar do Campeonato do Mundo da FIFA. Mais uma vez, esta competição provou ser O EVENTO desportivo do mundo, aquilo que somente os Jogos Olímpicos podem tentar replicar, mas que por uma razão ou outra, não conseguem.
Esta mediatismo do Mundial tem prós e contras. Por um lado, não faltam análises por essa internet fora sobre todos os ângulos possiveis e imaginários:
Análises de quem jogou ou treina - desde Pochettino, a Lillo, passando por Shearer;
E claro, a tudo isto juntamos um infindável volume de análises táticas, de performance e de discurso que já são apanágio deste jogo.
Por outro, é virtualmente impossível encontrar um ponto de vista refrescante e original para lhe trazer a si.
Mas, em grandes momentos de incerteza e dificuldade são as amizades que nos apontam o caminho. Quando instigado por um leitor amigo sobre se a Premier League determina o desfecho do Mundial, comecei a pensar nas façanhas dos clubes e das ligas nessa competição.
Obviamente, rankings de quantos jogadores os clubes têm presentes no Mundial já existem e foram amplamente divulgados. O que eu não vi, e espero que não seja por falta de interesse ou relevância, são outras métricas também relevantes no meu ver, como minutos jogados, golos e assistências marcados e esperados (xG e xA) e até cartões amarelos e vermelhos.
Eu sei, eu sei… Não é nada rigoroso da minha parte analisar uma competição de seleções do ponto de vista dos clubes de futebol. Mas acredite que, se me der a oportunidade, poderá surpreender-se com alguns dos dados que eu escrutinei e talvez consigamos até tirar algumas conclusões interessantes.
Vamos a isso!
As ligas no Mundial
Minutos e convocados
Ao longo da minha carreira académica sempre me foi aconselhado que é conveniente começar uma qualquer análise pela compenente macro, e é precisamente isso que farei. Assim, antes de passarmos aos clubes, olhemos para os campeonatos dos diversos países.
Como demonstrei na Factball #5, considero os minutos jogados num Mundial uma das métricas mais pertinentes para definir aquilo que é o pico de carreira dos futebolistas, e neste sentido, podemos analisar a quantidade de minutos que cada “liga” obteve nesta competição no Catar e assim deduzir quem tem os jogadores no melhor momento possível para ter rendimento desportivo.
O famoso top-5 das ligas europeias destaca-se de forma tão clara que só faz sentido separar os gráficos. A Premier League inglesa é uma “ilha” neste atributo com uma diferença muito significativa tanto em minutos jogados (30268) como em jogadores convocados (121). Em segundo lugar temos a La Liga, que com apenas 7 jogadores a mais do que a Bundesliga, consegue contar com 3660 minutos a mais. França, mesmo com o colosso PSG, nota-se que ainda está uns furos abaixo em comparação com as outras.
Quanto aos restantes campeonatos, temos de falar dos dados da Arábia Saudita e do Catar, cujas primeiras divisões colocaram imensos jogadores nesta competição e acumularam muitos minutos, muito devido às respectivas seleções nacionais.
Destaque ainda para a primeira liga americana que em termos de jogadores convocados acaba por ser a 8ª liga no geral.
Performance
Olhemos agora para algumas métricas de performance, que nos ajudarão a discernir se as ligas com mais minutos também são as que conseguem produzir mais “resultados” dentro de campo.
Em termos gerais, o top 5 de ligas europeias é o verdadeiro colosso e totaliza 67% dos golos e assistências desta edição no Catar, 72% dos golos excluindo penalties (npxG) e assistências esperados(xGA) e ainda 54% dos cartões amarelos. Em termos individuais, a Premier League destaca-se mais uma vez das demais ligas, com 23%, 25% e 19% nestas mesmas rúbricas. A Ligue 1, com 13% aparece em segundo classificado para golos e assistências enquanto que a La Liga aparece como segundo classificado para npxG e xGA, com 14% do total e para cartões amarelos com 11,5%.
Como o top 5 já não é uma surpresa para ninguém, deixo aqui também as ligas que se seguem, para termos uma visão mais global:
Na batalha pelo 6º lugar das melhores ligas temos um duelo que também já é característico dos rankings da UEFA, entre Portugal e Holanda. Em termos de golos+assistências a Eredivisie levou a melhor - 13 vs 12 -, enquanto que a Primeira Liga Portuguesa foi superior em minutos jogados, produção de oportunidades (npxG+xGA) e menos cartões amarelos - 3895 vs 3513 ; 6,9 vs 5,1 ; 5 vs 9.
Mais uma palavra de apreço para a primeira divisão da Arábia Saudita que contou com 31 jogadores no Mundial e assim aparece no top 10 de todas os pontos aqui analisados.
*De ressalvar que o ranking de cartões vermelhos é indiferente, uma vez que cada seleção teve uma admoestação.
Os clubes no Mundial
Minutos e convocados
Tal como para as ligas, comecemos por analisar o top 20 dos clubes com mais minutos disputados no Mundial de 2022.
Enquanto que o rei dos minutos jogados é o Manchester City, o Barcelona aparece na segunda posição mas com menos jogadores convocados. O Paris Saint-Germain, que verá mais à frente é a equipa mais letal, fica-se pelo 8º lugar neste ranking de minutos.
Tal como nas ligas, podemos ver a intromissão de Al Sadd e de Al-Hilal junto dos tubarões europeus. Destaque ainda para as duas equipas portuguesas e para o Ajax, que com orçamentos muito inferiores aos demais, conseguem intrometer-se nesta “luta”, como tem acontecido muitas vezes nas competições europeias.
Performance
Estando o mundo inteiro ao corrente do que se passou entre Lionel Messi e Kylian Mbappé no último mês, não será de estranhar que o Paris Saint-Germain apareça destacadíssimo em muitos dos rankings de performance que aqui irei apresentar.
Mas será que isso é o suficiente para o PSG ser coroado o clube vencedor do Mundial 2022?
Antes de irmos aos lugares cimeiros, talvez valha a pena olharmos para o caso do Bayern de Munique. Foi fácil de constatar durante os jogos da seleção germânica que o nível de produção da equipa estava muito acima das oportunidades concretizadas e esta tabela é um ótimo exemplo disso. Foi um prazer ver Musiala, Gnabry, Sané, Müller, Goretzka e Kimmich criarem oportunidades, mas de facto faltou golo.
Também me parece merecedor mencionar o Atlético de Madrid, que tem vindo a ter algumas dificuldades exibicionais no seu campeonato e na Liga dos Campeões, mas cujos jogadores se exibiram a um elevado nível neste Mundial, principalmente Morata, Félix, Griezmann, De Paul e Molina.
No que toca aos líderes na produção e concretização de oportunidades, não há dúvidas que os franceses do PSG estão destacadíssimos dos demais, muito por culpa dos dois craques máximos da equipa. Com 24 golos+assistências e 15,5 npxG+xAG, a equipa parisiense assume-se como a mais letal e perigosa ofensivamente.
No entanto, é mais uma vez o Barcelona que aparece na segunda posição para ambas as métricas, com 15 e 12,7 respectivamente.
Todos os dados utlizados são dos nossos amigos do FBref, que por sua vez colaboram com a Opta. Poderá consultar toda a minha análise aqui.
Conclusão
PSG e Barcelona são as equipas que chegaram à final deste meu Campeonato do Mundo de clubes (não confundir com aquele que Infantino vai lançar em 2025).
O segundo lugar do Barcelona em ambos os critérios faz dos culés o campeão desta competição que só existe na minha cabeça.
Haverá muitas elações a tirar destes resultados, mas aquelas em que me vou focar são o esforço financeiro que o Barcelona fez no verão é um espelho da qualidade dos seus jogadores, mesmo que os resultados desportivos na Liga dos Campeões não sejam satisfatórios.
Ficou também notório que a “falta de minutos” do PSG em comparação com os rivais mais próximos pela conquista do troféu máximo do futebol europeu poderá ser um indicador da falta de profundidade do plantel naquilo que são jogadores estratosféricos para cada posição, como no caso do Manchester City ou do Barcelona.
A verdade inegável é que todas estas análises têm algo em comum: dinheiro!
Construir plantéis para obter estes números num Mundial de futebol tem um custo tremendo e isso será sempre um obstáculo à competitividade, intra e extra ligas.
Voltarei para a semana com mais uma edição desta que é a sua newsletter de futebol com factos!
Um abraço e um golo numa final de Ángel Di María,
João Francisco
Prolongamento
Facto 🔍
A escolha das cores do Club Atlético Boca Juniors, da Argentina, tem origem na bandeira da Suécia.
Leitura 📖
Fez da genialidade uma banalidade
🖋 Carlos Daniel no zerozero.pt
Apenas um ponto de vista de um brasileiro...
Temos excelentes jogadores atuando no Brasil, mas por algum motivo desconhecido, ou conhecido por alguém, não existe mais jogador brasileiro atuando por aqui e titular da seleção... muitos são convocados apenas após serem transferidos para a Europa... os poucos que são convocados amargam o banco de reservas... Difícil entender... um exemplo prático é o do goleiro Alison, temos inúmeros melhores goleiros aqui, que fazem milagres e salvam os times... nossa opinião é que o Alison não serve pra nossa seleção... a questão econômica ainda acabará com nosso amado esporte !